O SINAL
Por Pedro Lusz
Num suspiro profundo, traduzindo o fogo que
arde em seu peito, Seo Astério se mostra outro. Não pode ficar em seu
esconderijo, na moita de suas lembranças e sentimentos. Sorri para Fruymã e pra
lua. O ritual já começou. Esperam pelo que virá.
Quando param, estão numa encruzilhada. Três
estradas e um só destino. Um destino, duas almas, três estradas e uma pergunta.
Muitas e nenhuma resposta.
Quem ousaria responder alguma resposta,
enquanto a Lua Grande passeia pelo céu e brinca com o calor que seus beijos
provocam em tudo?!
Fruymã e Seo Astério observam, escutam,
absorvem! Já não há mais nada no lugar. A Lua Grande entrou neles e mudou tudo.
Virou tudo ao avesso.
A noite aconselha que nestas noites, não se
deve pensar muito. Nem se lembrar de conceitos, muito menos de preconceitos.
Em noite de Lua Grande, tudo é forte, tudo é
quente, tudo é sagrado, tudo é feitiço. Nada é pecado!
Fruymã estava ali, distante e em todos os
lugares. No entanto, onde estivesse, escutaria o canto da voz de Seo Astério.
Nunca vi um dia tão claro e tão quente como
esta noite. Dá até pra sentir e escutar o cheiro da gente pegando fogo lá
dentro.
Fruymã não está ela não! Nem pode ficar
parada. Dança pra Lua. Dança que ela fica feliz.
Mostre seu feitiço pra ela, que é pra ela
ficar plena de paixão por seu cheiro.
Quando ela começar a tremer, eu digo uns
versos e nós vamos mostrar pra essa feiticeira que nós também podemos virar o
mundo ao avesso!
Fruymã, que já estava em chamas, se deixa às
palavras de Seo Astério. Seu corpo se move e seus movimentos se fundem com o
brilho de seus olhos e com sua sensualidade primitiva, que se misturam com o
brilho da Lua Grande e o mundo outra vez se cala.
Tudo para e escuta. Escuta-se o silêncio
sendo dominado pelos feitiços da Lua Grande e pelo cheiro quente dos movimentos
de Fruymã. Duas almas. Duas fêmeas em chamas.
Parte
da lenda O SINAL, da Obra Mitologia Filosófica Brasileira
O SAPO VOADOR E AS BOTINAS DE PAPAI
Pedro Lusz
Modéstia às distâncias, fui e sou muito privilegiado
em minha chegada para esta caminhada atual. É claro que minha vida é uma
sequência de trancos e barrancos com grandiosidade e exuberância e não me
esqueço nunca do significado de participar desta engrenagem na qual sigo
provocando oportunidades e as aproveitando. Sim, modéstias às distâncias
novamente e sempre que for preciso! Sinto uma paixão imensa pela engrenagem na
qual manejo meus atos e experimento os resultados de tantas buscas e
descobertas. Viver é muito bom!
Minha chegada foi recebida, foi possibilitada por uma
família com a qual me alegro, sempre e sempre. Um privilegio! Já falei muito e
falarei muito mais sobre minha mamãe, uma mulher simples e grandiosa. Papai, o
primeiro professor de minha caminhada, junto com mamãe, a primeira professora, ainda
hoje é um mistério em minhas matutagens. Um mistério lúdico, lúcido, provocador,
inquietante, aconchegante, amistoso, afetuoso e revolucionário.
De onde lhe vinha tantas informações? Era, como já
contei em linhas antes lidas, ou já escritas por minhas mãos, um homem simples,
uma pessoa sabida. Papai conhecia muita coisa. O que não sabia, labutava,
matutava, conversava com o travesseiro e com mamãe e descobria como
desencrencar o que aquele conhecimento exigisse. Assim, aprendia sempre e era
muito sagaz. Vivi esta arte de buscar, refletir, mastigar ideias e descobrir com
muita avidez, em momentos íntimos, simples e sensíveis, ao lado de papai.
Seo Osório, um Bertié que carregava uma herança
cultural muito valiosa e viva de sua gente, de seu povo judeu. Sempre falava de
suas origens. O velho Bertié, meu avô, papai de papai, era sempre consultado em
recordações, lembranças e lições esclarecedoras. Falava com prazer, pois
acreditava na arte e na força da palavra. Me disse um dia que, se eu aprendesse
a usar bem minhas palavras, poderia esquecer as armas, pois teria ferramenta
mais potente. Me mostrou que uma caneta é mais perigosa, mais poderosa, mais
construtiva, mais revolucionária que uma espingarda, ou qualquer arma que só
machuca, devastadora que uma enxada, um machado, uma foice, um facão e muito
mais leve, mais fácil de ser manejada, se eu aprendesse a arte de arrumar os
sinaizinhos, como minha mamãe chamava as letras, se eu descobrisse o valor da
palavra, se aprendesse a arte da escrita e a grandiosidade da Leitura. Foi a
chave para minha caminhada, inclusive para esta nossa prosa.
Com uma família animada e não muito pequena, nove
filhos, duas filhas, mais algumas crianças maravilhosas que adotaram, educaram,
cuidaram e amaram com a mesma sabedoria e o mesmo equilíbrio, papai tinha lá
suas estratégias para tudo que fazia. Era um jeito primitivo, difícil de ser
explicado com palavras, que dava muito certo. Ele conhecia as particularidades
de cada pessoa de nossa casa. Aproveitava muito bem as habilidades de cada
membro deste grupo. Como imputava a cada pessoa as tarefas que ela mais
gostava, tinha harmonia, alegria, muita disposição e resultados fantásticos.
Esta estratégia é uma de minhas grandes lições às engrenagens de nossa
sociedade. É claro que sabemos que não se aplica este princípio em quase nada.
No entanto, seriamos uma Nação, seja onde for que estas palavras sejam lidas!,
seríamos um povo muito mais feliz, menos ranzinza, menos hostil e mais
equilibrado, com tudo que você encontrar de significado para o que seja ser
equilibrado!
Às vezes eu desejava muito ser convocado para as
tarefas que somente eu executava para papai. Colher e descascar laranjas, que
ele saboreava com um prazer nutritivo aos meus olhos. Em sua última semana
conosco, antes de partir para sua caminhada em outras dimensões, este foi seu
único alimento, laranjas deliciosas que eu descasquei e coloquei em sua boca.
Me tornei logo um ótimo apanhador e descascador de laranjas para papai. Eu
havia encontrado o pé-de-laranja que lhe deixava feliz, descobri em que altura,
em quais galhos, de acordo com a posição do sol, estavam as frutas mais
saborosas. Era uma festa fazer aquilo. Amolar o canivete que ele trazia sempre
ali, pendurado no currião, ou cinto, limpar e guardar os chapéus, lavar e
cuidar das peças da máquina na qual ele transformava o leite em creme,
manteiga, leite desnatado, leite mais desnatado ainda, que virava alimento para
os porcos, sempre eu. Os porcos também eram cuidados e alimentados por mim.
Buscar as vacas no pasto e separá-las dos bezerros e bezerras, no final do dia,
buscar o cavalo, ou o burro nos quais ele saía. Arrear eu não sabia. Era tarefa
do João, rapaz forte, jeitoso, valente e sensível que era o domador oficial da
família. Claro que não! Não domava a família, que era equilibrada e indomável.
João domava os animais da família.
Outra tarefa que somente eu desempenhava para papai
era cuidar de suas botinas. Eu fazia aquilo com arte, pois aprendi logo a ser
cuidadoso com minhas labutas, até para não ter que fazer novamente e zelava
daquelas botinas sabendo a importância dos pés que elas protegiam e
esquentavam. Todas as manhãs, depois de todos os rituais matinais, de se
alimentar bem com aquele desjejum delicioso e farturento, papai se sentava num
tamborete, que era usado somente para aquela troca, tirava as precatas,
alpercatas, ou chinelos de couro macio, confeccionadas ali mesmo em nossa
fazenda, colocava as precatas num canto, depois eu as arrumarei direito!,
esquentava bem os pés com as próprias mãos e calçava as botinas, então saía
para a lida.
Eu ficava intrigado com a precisão com que ele
manejava as botinas. Pegava com cuidado, segurava na parte de trás, sem tocar
no salto, que poderia conter algum resquício de lama ou poeira, pois eu as
limpava e não as lavava todos os dias, com a parte aberta virada para baixo,
batia a parte da frente da botina na outra mão, algumas vezes, sacudia bem e
calçava. Será que ela pensa que não sei limpar uma botina? Será que não confia
em meu zelo para com seus pés e acha que deixarei, ou ainda pior, colocarei
alguma coisa dentro destas botinas que poderia lhe ferir os pés? Ele não se
importava com minhas perguntas, que eram ouvidas apenas por meus botões, pois
nunca falei sobre isto para ele que continuava com o mesmo hábito, todos os
dias. Eu sabia que não viveria sempre com estas interrogações. Era só esperar,
cutucar com meus cuidados, com a discrição gritante de meu olhar de cuidador
curioso e desvendaria os mistérios daquele costume.
Pois chegou o dia de desvendar o mistério. Nunca
imaginei, porém o tamanho da fuzarca que se desenrolaria diante de meus
sentidos. Foi neste dia que descobri, atingido por um tumulto em minhas ideias,
que o pensamento tem peso físico e nossa voz, mesmo dita apenas para nossos
segredos, é uma força danada. Hoje sei que o mundo gosta muito de escutar
nossos desejos e nos oferecer ferramentas para experimentarmos o que eles
significam ao serem vividos. De tanto olhar para aquele gesto e querer saber a
razão dele, devo ter cutucado a disciplina com a qual papai fazia tudo.
Naquela manhã, depois de uma noite chuvosa, relâmpagos
e trovões, o sol chegou cedo e muito animado. Papai agiu rápido, quis sair logo
para ver o que veria na exuberância da natureza. Se sentou, tirou a precata do
lado direito, esfregou uma mão na outra, esquentou o pé, pegou, segurou, bateu,
sacudiu e calçou a botina. Pé esquerdo acariciado, massageado, quente, pega a
botina e, Minha Mãe do Cerrado!? Ele se esqueceu! Por que estou espantado, com
esta cara de desespero? Sempre matutei sobre tal prática, sempre desejei que
ele confiasse em meu trabalho e não limpasse estas botinas. Eu sabia que tinha
desejado. Porém, senti que aconteceu numa situação inconveniente. Ele
simplesmente calçou a botina do pé esquerdo, sem sequer segurá-la com mais
firmeza e desconfiança.
Papai sorriu para mim. Senti pressa naqueles lábios e
sorri também, desejando que ele tivesse um dia maravilhoso, fosse e voltasse
bem e logo. Ele saiu. Será que ele sempre pisa do lado de fora da porta,
primeiro com o pé direito? A pergunta ficou engastalhada no meio da respiração.
O que se seguiu foi mesmo extraordinário.
O primeiro passo foi perfeito. Pé direito no chão,
botina ajustada, movimento firme e lá vamos nós. Quando ele tocou o chão com o
pé esquerdo, o pé da botina que ele não bateu na mão, nem sacudiu, meu fôlego
parou, por alguns segundos. Por um triz que papai não arrebenta algumas telhas
da beirada da casa. Ele deu um salto enorme, para cima e seguiu para frente.
Rápido como meus desejos de ver sua cabeça inteira, com o chapéu onde deveria
ficar, ele se abaixou, ficou assim, quase deitado sobre as pernas que esticou
para a frente e por isto não acertou o telhado. Como ele soltou uma grito e uma
rizada, deixando claro que estava bem, seguro e gostando do que se passava,
esqueci meu susto e corri para ver o que eu veria. Pé direito no chão, passo
normal. Pé esquerdo no chão, um salto, nem sei se não estou sendo tímido ao não
admitir que se tratava mesmo de um voo. Pisava a botina esquerda aqui, parava
lá na frente, quinze, vinte metros depois.
Corajoso, esperto, lúdico e apreciador de novidades,
papai seguiu por sua jornada, experimentando jeitos diferentes de ver o mundo ali
por perto. Via as coisas lá de cima daqueles saltos, passava pelas grotas,
pelas pedras, pelos poços de água, fazia cócegas no lombo dos animais bravos,
se divertia com o espanto dos trabalhadores de nossa fazenda e dos vizinhos que
paravam estarrecidos vendo papai passando, como se voasse. Mamãe, conhecendo
bem o companheiro com quem caminhava e celebrava a magia da vida, achou que
poderia ser qualquer coisa que ele tivesse inventado para se divertir, para
chegar mais rápido, olhar as coisas de cima sem precisar comprar um avião, nem
subir em pé-de-pau, se fosse algum brinquedo, seria para nós, depois que ele
testasse e confirmasse ser seguro e divertido.
Eu estava muito apreensivo. Mesmo gostando muito de
aventuras, de saltos, de novidades, temia ser aquilo algum desacerto meu ao
limpar aquela botina, talvez desejei tanto que ele não a sacudisse antes de
calçar e alguma encrenca mágica se abateu sobre ele e sobre a botina, ou seria
algo que havia acontecido durante a noite? Será que mamãe falou alguma coisa
que deixou papai assim tão feliz, ao ponto de sair andando nas nuvens? Será
alguma comida, algum sabor diferente na xícara de café? Desejei que aquele
fosse o dia mais curto de minha vida. Tentei convencer o sol que ele já havia
brilhado muito, todo mundo estava cansado, ele podia seguir, deixar a estrada
aberta para a noite se aproximar. Assim papai voltaria logo para casa, antes
que alguma coisa mais rígida e a cabeça dele se encontrassem por estas alturas.
Parece que o tempo ficava ainda mais lento.
Finalmente! Papai está vindo. Como o sol descambava lá
pelos morros do Trabanda, comecei a me inquietar com outro detalhe, desta vez
técnico. Como papai voltaria para casa? Sim, saltando, voando baixo. No
entanto, como ele entrará e se sentará no tamborete para tirar as botinas, se
não está caminhando? Aquele som ensurdecedor, como se fosse um avião enorme,
atrapalhou minha conversa com meus botões. Foram os cutucões de meus botões que
me sacudiram e descobri que minha respiração continuava em meu corpo. Ali, ao
meu lado, sentado em seu tamborete, estava papai, suspirando tranquilo, se
preparando para dar liberdade aos pés. Do jeito que saiu ele voltou. O último
passo, lá na porteira do curral, uns treze metros distante do tamborete, foi
com a perna esquerda. Ele se inclinou, desta vez para trás, com as pernas
esticadas para frente e entrou pela porta, voando, segurando o chapéu com a mão
esquerda enquanto me dava uma goiaba com a direita.
Se sentou, suspirou seu suspiro de tarefas
finalizadas, disse que na hora de dormir me contaria umas coisas diferentes.
Ele e mamãe sempre conversavam antes de dormir, sentados na cozinha, com a
família toda por perto. Conversavam contando estórias. Nos encantavam, nos
informavam, nos formavam e nos transformavam. Às vezes me transtornavam para
depois eu me transformar com os significados daquelas palavras.
É agora! Também nunca observei se ele tira sempre a
botina direita primeiro. Hoje será assim. Tudo normal. Tensão medonha. Olhar
firme no pé esquerdo. Botina na mão, parece que tem algum trem aqui dentro, meu
filho! Que será que é? Era exatamente o que eu mais queria saber naquela
hora, que será que é? Meu pensamento
fervia tão agitado. Por um triz que as palavras ditas aos meus botões não se
tornaram públicas. Vamos papai, precisa agir com esta calma em todas as
situações?! Na verdade eu amava aquela velocidade serena dos movimentos
daquelas mãos, manejando aquela botina, pois não sabia como ficaria o mundo
após a descoberta do trem que tinha dentro da botina do pé esquerdo de papai. Sacode
a botina, vira a parte aberta para baixo e lá de dentro, por todos os trovões e
trovoadas, Minha Mãe do Cerrado! Sim, lá de dentro daquela botina que cuidava
do pé esquerdo de papai cai um sapo
enorme.
Pois foi. Justo naquele dia, o único dia que deixou de
sacudir a botina do pé esquerdo, tinha um sapo dormindo lá dentro. Apressado e
envolvido pelas lembranças da noite e o cheiro da vida, papai saiu apressado, mesmo
sendo a pressa uma coisa que ele nunca apreciou. Sabia que tinha alguma coisa
diferente, deve ser algum sinal, algum calo que começa a nascer em meu pé.
Depois cuidaremos disso e, o salto. Ele disse que achou que eu tinha colocado
alguma mola, talvez uma bola, feita com leite de mangaba, que pula muito quando
pressionada e solta, achou que fosse algum cuidado meu para diminuir o cansaço
de sua caminhada e aproveitou, achando aquilo muito bom.
Menos de um mês depois, recebemos uma visita estranha,
de uma pessoa muito estranha, com uma conversa estranha, que nos entregou um
papel. Li e vi que era um assunto muito estranho. Era um oficial de justiça, a
serviço de um sindicato e do Ministério do Trabalho. Papai estava sendo
intimado a pagar uma indenização por apreensão, manutenção em cativeiro e
exploração de mão obra em regime desaconselhável. Ficaram doidos? Chame todo
mundo, chame quem trabalha aqui em casa e pergunte se sou capaz de alguma
ruindade dessa. Nesta fazenda, trato todo mundo muito bem. Cuido da saúde de
todos e de todas, pago com justiça, tenho escola para as crianças, somos como
uma família. O Ministério conhece a fama do amigo, o país lhe considera e até
lhe deve muito. Porém, Seo Osório sabe que as leis são rigorosas. Eu sempre
cobrei, pelejei para que criassem as leis e aqui todos nós seguimos o que é
direito, acho até que respeitamos mais as leis que muitas autoridades. Vá, ande
por aí e veja se encontra alguém que reclame de mim. Quem está me denunciando?
O que é isto? Se é para ler, pegue aqui, meu filho. Um retrato? O moço está
brincando e me tomando o tempo! Um sapo?
Sim. Um sapo. Na verdade, não era um sapo. Era o Sapo.
O mesmo que se escondeu dentro da botina esquerda de papai. Depois de um dia de
aventuras, andando em segredo, dentro de calçado alheio, o bicho mostrou do que
era capaz. Saiu se arrastando, se alimentou fartamente nos arredores, com
muitas frutas no chão, muitas formigas e mosquitos no mato. Foi em seguida
denunciar papai. Pedia uma indenização de cinquenta mil formigas, trinta mil
mariposas e quatro mil marimbondos, sem ferrão.
Como sobrou para mim, que estava com o documento de
intimação na mão, fechei vários acordos, inclusive com o oficial de justiça, de
quem ganhei uma teima e ele teve que enfrentar alguns marimbondos, para tirar o
ferrão destes bichos. Depois de algumas ferroadas, ele mesmo se encarregou de
retirar aquela cláusula da ação. Negociei também com os animais. Foi um período
de muita labuta, para encontrar e pegar tantos insetos. Minha tranquilidade veio
de minha amizade com os bichos. Em alguns meses, encerramos aquele mutirão, o processo
foi concluído e ninguém mais nos incomodou com aquele encrenca.
Algumas semanas depois e lá estava o sapo, tentando
pegar, contar e guardar alguns insetos. Disse em uma entrevista que era para
sentir o peso de minha labuta e respeitar mais o meu trabalho. Como ele
percebeu que não daria conta de tão árdua tarefa, se juntou à Sapaiada Sem
Brejo, se tornou amigo de todo mundo lá na FPA, a Fazenda Paraíso dos Animais, onde
esta estória aconteceu, se tornou personagem de meu livro e hoje é conhecido em
muitas rodas de Leituras por onde passo com minhas cantigas e minhas estórias,
as que invento e as que aprendi com papai e mamãe!
Desde então, minha família se tornou muito cautelosa
com o manejo dos pés. Nunca mais calçamos uma botina, um sapato, uma bota, ou
mesmo um tênis, sem sacudir bem, virar a parte aberta para baixo e depois olhar
com atenção, para ter certeza que está tudo limpo, sem ninguém escondido ali
dentro. Marrapaiz! Nunca se sabe!
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